top of page

Emoções da Palavra

Poesias são estados de alma, feitos palavras.

Ler poesia é vislumbrar  um lugar que normalmente se encontra interdito a olhares indiscretos.

Ler poesia é espreitar para além do poeta.

ENTRE FUMOS DE CHUVA AZUL

 

Fuma-me a alma,
Numa tosse cavernosa,
Num tempo sem fim.
Desprendem-se de mim,
Em ondulantes espirais,
A angústia,
A amargura...
Perdida nas malhas do enigma da vida,
Revejo-me no desalento
Do sonho que desfalece no insucesso;
Da paixão que jaz ressequida.
Desfocada, a realidade contorce-se,
Vergada pelo peso dos erros passados.
Engulo em seco.
Há muito perdi o sorriso interior,
O soluço sentido,
O sal das lágrimas que se recusam a cair.
Áspera, seca, sem vida.
A tolerância, gasta,
Cedeu lugar ao rito azedo dos lábios,
À crítica ferina.
Ridículos, mas não hilários,
São os homens pequeninos,
Nos seus dilemas de poder,
Insegurança ou frustração.
Morta a esperança,
Restam-me as chuvas azuis
Que me envolvem
Numa imitação de vida.

 

3 de março 2015

CHUVA de OUTONO

 

Torrencial a chuva cai.

Imóvel, na minha cama,

Mantenho os olhos cerrados.

Vejo, sem ver, pó e terra transformados em lama.

Sinto as árvores e plantas revigorando-se,

Bebendo o ansiado líquido purificador.

 

Finalmente, meus olhos chovem.

O Outono chegou.

Com ele chegam as águas que limpam e purificam.

A força da enxurrada tudo arrasta.

 

 

Os amores fortes vencem,

Os outros,  os de Verão, quais folhas amarelecidas,

Correm rodopiantes, levados pelos ventos.

 

Outono, mesmo tardio,

É Estação de decisões, de tomar novos rumos,

Ou de permanecer.

Encosto a testa à vidraça,

O fluído frio enregela-me.

O coração estremece, dorido.

Lá fora as árvores erguem para o céu,

Implorantes, seu braços despidos.

A vegetação verga ao sabor do vento.

 

E eu,

Eu, sinto que a força do vento me invade,

Que a chuva pura e líquida me lava.

Que é chegada a hora de, mais uma vez,

Crescer.

 

Crescer dói,

Vergo ao sabor do vento,

 

Mas logo ergo meus braços nus aos céus.

Por mais difícil que seja,

É chegada a hora de partir, ou de ficar.

O Inverno espreita, será gélido, solitário e mortal,

Se agasalho não encontrar.

25 de outubro de 2011

INQUIETUDE

 

Num mar de ansiedade,
Perdido num oceano de inquietude,
Vibram minhas cordas, gastas e já desafinadas,
Numa melodia intemporal.

Minha Fantasia
Vagueia entre o Vibratto,
Allegro ma non tropo,
E o Fortíssimo,
Num andamento fora de compasso.

Forte tempestade assola o meu coração,
Notas dissonantes de um pensamento errante.
A violência da torrencial chuvada
Verga o meu insubmisso olhar.

Presa nas trevas da noite,
Tenho ciúmes da Lua, que ilumina sem luz própria,
Atormentam-me as estrelas,
Na glória do seu bailado eterno.

Quero Fustigar
O transfigurado Amor.
Rasgos de racionalidade ocasional
Calam a impetuosidade.

Os deuses ditaram leis,
Inconformes com os desvairos
Das almas alucinadas.

Digladio-me no Inferno
Das Chamas   
Que nem o próprio Diluvio
Poderá apagar.

O Universo tremeu.
Desaguei no Buraco Negro
Com a violência de uma enxurrada.

Um silêncio mortal
Paira no meu Universo.
Busco o ar gélido dos pólos,
Para aniquilar o anseio,
Amordaçar o coração,
Emudecer o pensamento.

 

30 de setembro 2011

bottom of page